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Rio de Janeiro, RJ, Brazil
Trabalho na Escola Nacional de Seguros, sou graduado em Letras, pós-graduado em Educação a Distância, em Ciências Ambientais e mestre em Literatura Brasileira.

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segunda-feira, 11 de outubro de 2010

SURPREENDERÁ A TODOS, NÃO POR SER EXÓTICO

Fotos: Mara Hermes (Flickr) e Microsoft

Certa tarde, cinco meninos indígenas brincavam às margens do rio São Francisco, entre os municípios de Pão de Açúcar (AL) e Porto da Folha (SE). Anos depois, já crescidos, eles se tornaram alunos dos cursos de graduação a distância de Ciências Biológicas, Geografia e Letras da Universidade Federal de Sergipe.

Os cinco jovens indígenas fizeram parte do Projeto Pré-vestibular Indígena a Distância, vinculado ao Programa Conexões de Saberes de outra instituição de ensino superior do Nordeste, a Universidade Federal de Alagoas. Esse projeto é composto de um grupo multidisciplinar, chamado Grupo de Pesquisa Cultura, Identidade e Movimentos Sociais, que inclui professores da UFAL e onze universitários, dois deles participantes do intercâmbio entre a universidade alagoana e a Universidade de Valência, da Espanha.


Outro projeto importante, apoiado pela Cisco Systems, British Telecom, Microsoft, Bradesco, Fundação Mário Covas e pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), é o da Fundação Bradesco. Através de um de seus Centros de Inclusão Digital, a fundação assume o desafio de implantar a educação à distância na região do município de São Gabriel da Cachoeira (AM). A área concentra o maior número de etnias indígenas diferentes no Brasil. Ali convivem vinte e três grupos indígenas, que falam dezenove línguas.

São Gabriel da Cachoeira se localiza na fronteira do Brasil com a Colômbia e a Venezuela. É o terceiro maior município do país: tem um território equivalente a duas vezes e meia o Estado do Rio de Janeiro. De Manaus até lá, não existe estradas, e a solução é viajar de barco subindo o Rio Negro. Da capital do Amazonas até São Gabriel da Cachoeira, os barcos levam em média três dias. Mas isso é pouco. De São Gabriel para a cabeceira do rio Içana, por exemplo, a viagem pode durar mais de vinte dias. Quem determina todos os prazos são os níveis dos rios.

Nessas águas e terras, a língua portuguesa circula entre os brancos e os indígenas. Mas o que se fala mesmo de cá para lá e de lá para cá é o baniwa, o tukano e o nheengatu. Os cursos da Fundação Bradesco selecionados pela comunidade são traduzidos para essas três línguas indígenas, bem como os drivers e os teclados que em breve serão adaptados para as suas escritas.

Não se trata apenas de substituir o arco e flecha pelo mouse ou os hábitos milenares por uma inclusão digital por si mesma. As tradições são resgatadas, porém o que se quer é uma melhoria da educação e o aumento da empregabilidade. O projeto oferece 310 cursos, entre eles, os de gestão escolar, língua inglesa e investimento no mercado de ações. O curso escolhido como carro-chefe foi o IT Essentials I, de software e hardware, cujo conteúdo é alinhado para certificações internacionais e demandas das grandes empresas de TI.

"A educação indígena não pode ser vista como algo diferenciado. Muitas vezes temos de ir contra os sistemas de ensino para valorizar a educação de cada povo: criar literatura própria e valorizar a transmissão oral. Mas, o que o mundo tem de bom nós queremos. Queremos ensino superior, acesso à internet; queremos que nossos filhos saibam viver nas comunidades e nas cidades também" - assim declara o diretor do Departamento Indígena do projeto, Donato Miguel Vargas, descendente da etnia Karapanã.

Há outros projetos de Educação a Distância à mão do índio no Brasil. "E as coisas que eu sei que ele dirá, fará, não sei dizer assim, de um modo explícito”.*



* Os títulos e o trecho final dessa postagem são de “Um índio”, de Caetano Veloso. O texto é baseado em:
http://fernandoscpimentel.blogspot.com/2010/06/indios-e-ead.html

www.educacionista.org.br/jornal/index.php?option=com_content&task=view&id=6168&Itemid=41



Um comentário:

  1. As Universidades tem desenvolvido projetos interessantes para este e outros segmentos sociais. Gostei muito da lógica do projeto e fiquei feliz em poder colaborar com a imagem.
    Um abraço

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